Voltando ao início, sei que divaguei...
Sinto saudades de quando era uma criança que só ficava entretida com brinquedos, brincadeiras fosse para que local fosse e a televisão quando estivesse em casa - televisão, bonecas, cães... O telemóvel tomou conta da nossa vida, das nossas relações, dos nossos momentos. Não me lembro qual foi a última vez em que me senti bem em deixar o telemóvel, estar sozinha comigo mesma.
Então, depois de mudar o meu carro de local de estacionamento, fui à pastelaria. Só trouxe mesmo a chave do carro e a carteira. Pedi uma torrada e foi um bocado tortura, foi uma "seca" estar à espera da torrada sem o meu telemóvel para ir ao Instagram. Foi mesmo, ao início. A pastelaria estava quase vazia. Paz. Paz existindo poucas pessoas e pouco barulho, apenas o do rádio, das funcionárias e de uma ou outra cliente. Paz sem o telemóvel. Comecei a respirar, a sentir essa paz e o tormento com o telemóvel começou a desaparecer. Apreciei a forma de agir de um bebé de um ano e tal (provavelmente o tinha), o sorriso dele, dizer-lhe "cucu", vê-lo com o telemóvel da mãe mas só por ter a curiosidade em relação ao objeto, à forma, à cor, ao tacto, não ao entretenimento que aquele objeto, neste caso aquele aparelho, lhe poderia trazer. A mãe não lhe o deu como muitos pais fazem, precisam de se entreter ou parar a birra » toma lá o telemóvel! Não, isso não é o correto, dêem-lhe um boneco. Fui feliz com os meus Nenucos, as minhas Barbies e o meu Action Man (que encontraram no trabalho da minha mãe). Fui feliz assim.
Entretanto a minha torrada chegou e, mesmo queimando os dedos, comecei a apreciar a torrada. Apreciei o momento, a pastelaria ficou ainda mais vazia, apenas as funcionárias de lá e a música da Dua Lipa com o Martin Garrix. Deixei de sentir que precisava do telemóvel. Aquele momento era só meu.
Senti-me bem, quero mais momentos assim. Mais momentos sozinha ou acompanhada mas sem tecnologia que não seja um rádio ou a televisão na VH1. Mais momentos sozinha a apreciar os pormenores que pareçam mais insignificantes do momento. Sozinha mas também acompanhada de um livro. Sozinha mas acompanhada das pestes de quatro patas que amo do fundo do meu coração e incondicionalmente.
O telemóvel acaba por ser bom numas coisas mas, como tudo, se não for com moderação, transforma-se em doença(s), traz-nos doenças, física e mental e obviamente que as doenças mentais trarão doenças físicas. Querem telemóvel para emergências? Vão buscar os vossos Siemens A50 ou outros do género, outros que não vos façam estar tão agarrados a ele por causa das redes sociais e afins. Querem dar um telemóvel a uma criança para brincar? Dêem esse Siemens A50, Nokia 3310 (o antigo), o vosso Nokia 5300 ou Sony Ericsson aos miúdos para brincarem "às mães e aos pais" como se brincassem com aqueles brinquedos em forma de telemóvel da feira. Dêem esses telemóveis aos vossos bebés para eles se entreterem a descobrir um objeto com a mesma alegria quando lhes dão uma colher ou um brinquedo com "chaves" de tamanhos, formas e cores diferentes para eles os sentirem no peso, ao olhar, no tacto, se o objeto é duro ou mole, essas coisas. Tirem os miúdos de casa e ensinem-lhes a andar de bicicleta, mesmo com trambolhões. As feridinhas e as nódoas negras são muito mais saudáveis para eles do que entretê-los com as aplicações do vosso smartphone. Um dia eles irão vos agradecer por isso.
Beijinhos,
AG 💙
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